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PENSAR SOBRE O MAL NO MUNDO VIRTUAL É NOSSO DEVER DE CASA

Nunca estamos precavidos o suficiente quando se trata da subjetividade humana. Ontem, tomei conhecimento sobre um acontecimento recente e muito triste. Não trarei informações sobre o acontecimento em si mas falarei da reflexão que aconteceu em mim a partir do momento em que assisti o vídeo da cantora Walkiria. Um desabafo emocionado e pesadíssimo quando se sabe o contexto.

Quando envolve pessoas, em atitudes maldosas, atitudes que questionam nossa humanidade, nossa capacidade de empatia, até mesmo nossa civilização, é inevitável, para mim, retomar uma leitura proveitosa, tanto quanto assustadora, que fiz alguns anos atrás.

Quando eu penso sobre o Eichmann, tendo em mente o que ele fez, me dou conta, mais uma vez, que ao contrário do monstro perverso e sádico que o nosso senso comum deseja que ele seja, trata-se, na verdade, de um homem mediano, um burocrata cumpridor de tarefas, empenhado em fazer o seu trabalho. Sem sinais de ambição pelo poder, sem sinais de sadismo e perversão que explique sua colaboração com a crueldade, com a barbárie. Um homem comum, medíocre, como todos nós.

Hannah Arendt nós diz que Eichmann não era o psicopata sádico que se divertia com a degradação e sofrimento humano, que se quer pensar. Mas sim, uma pessoa comum que se alienou da realidade ao ponto de não questionar, mais, suas próprias atitudes demonstrando total inconsciência da gravidade de seus atos. E por ser essa pessoa comum é possível que exista um potencial Eichmann em todos nós.

Não é preciso fazer grande exercício intelectual para linkar o pensamento de Arendt com acontecimentos atuais. Especificamente, sobre nosso comportamento no mundo virtual. Nessa terra, meio sem regras (claras), nos comportamos das mais variadas maneiras que na vida real, talvez, não faríamos da mesma forma.

Ao observar o fenômeno do hate, do ódio na internet, um ódio desproporcional e muitas vezes sem motivo suficiente, um ódio gratuito, precisamos perguntar para a psicologia quais as possíveis motivações, conscientes e inconscientes, que levam a esse comportamento, no terreno virtual. Precisamos entender a gravidade do que estamos fazendo, o terreno em que estamos pisando, as consequências de tudo isso. Não ter, claras no horizonte, as consequências das nossas ações no mundo virtual pode ser parte dos problemas. É uma hipótese, dentre tantas.

Pensemos o que um sujeito pensa ao bombardear a publicação de alguém com ódio e sem considerar, por não saber, o contexto real da pessoa atacada. Reagindo sem qualquer compromisso com os efeitos das reações, sem a menor responsabilidade com as consequências, sem se importar com o que venha a acontecer.

Esse modo de agir, irresponsável e potencialmente perigoso tem sido um comportamento social comum, nas redes sociais. Pensem que no dia seguinte a uma tragédia na vida de uma família que perdeu alguém, as pessoas que potencialmente contribuíram para que esse alguém atingisse um quadro emocional devastador ao ponto de decidir encerrar o sofrimento a qualquer custo, essas mesmas pessoas estarão vivendo suas vidas sem qualquer sombra de culpa, ou, peso de responsabilidade com o que foi dito, para quem foi dito, na internet.

O mundo virtual não é o inimigo. Não é sobre uma guerra à tecnologia, esse texto. Sem distorções desse texto, por favor. Na verdade, se trata de uma inquietação pessoal por perceber que nós, por estamos tão dentro de tudo isso, talvez, não estejamos percebendo todas as nuances desse quadro sendo pintado em tempo real.

Em outras palavras, para além de que; precisamos pensar mais no que falamos e para quem falamos, em que contexto falamos, de qual lugar falamos, antes de propriamente falar no virtual, é imprescindível, também, pensar às causas de utilizarmos o confortável distanciamento que o virtual nos proporciona para odiar sem temer consequências. Para atacar sem pudor e sem motivo evidente que, ao menos, explique a violência em ação. O mundo virtual por ser esse território inédito, de possibilidades aparentemente ilimitadas, me parece convidativo ao falar sem cautela, ao falar sem qualquer responsabilidade, sem nem uma preocupação com o que se fala.

Sei que parece óbvio mas visto o que tem acontecido me parece razoável enfatizar que na internet o mundo pode ser virtual, e nós sermos todos avatares, as vidas representadas, por lá, nem sempre são reais. Mas as consequências de certas atitudes, sobretudo as consequências do discurso de ódio, podem ser devastadoras e seus danos extrapolam o mundo dos pixels. Para além do mundo no qual todos somos avatares, “imorríveis”, “imachucáveis”, intocáveis, os danos alcançam os espaços materiais, as vidas e as vivências do mundo real com resultados que podem ser irreversíveis.

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