
Mais um domingo que antecede a segunda feira. O óbvio é uma benção e também maldição. Tenho preferido não dizer nada. Aliás, tem sido assim já faz um tempo.
Tenho procurado anestesia porque sentir dói e o sentido não se encontra em lugar algum. Tenho esbarrado no egocentrismo humano, convivemos diariamente com as representações, as imagens, os personagens.
Sou atriz de formação, conheço as técnicas teatrais, as teorias que constroem a persona, mas na vida não sei mais interpretar.
As relações sociais sempre foram como montanhas escanchadas em meus ombros. Hoje vejo com clareza que me arrastei durante todo esse tempo, uma vã tentativa de ser normal, de me adaptar, mas me adaptar não quero mais.
O malabarismo para saber o que dizer, quando dizer, entender o que está sendo dito é como uma dança social. Você já sabe de alguma forma, mas quem não sabe vai aprender imitar quem sabe.
Já faz tempo, tenho me sentido inadequada. Imitar essa dança convencional tem sido cansativo e cansei de sair com os pés machucados. Não quero mais dançar. Criarei minha própria dança. Só minha. No meu ritmo. Na minha solidão.
Tenho sido um ser sozinho que longe, muito longe, da compreensão de alguém entendeu que não dá mais pra esconder minha inadequação. Meus trejeitos, meus devaneios, meu apego a solidão. Não ser quem sou tem sido caro, mas decidi ser um preço que não estou mais disposta a pagar.